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“No meu tempo as pessoas tinham mais do que precisavam, elas
desperdiçavam coisas pelas quais vocês matariam hoje”
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Esse post nāo é sobre nenhum livro, nem leitores ou
estudiosos.
Abrirei um precedente e falarei sobre um filme.
Um filme que ví esse final de semana e me impressionou
muito. A pessoa que me indicou já vinha falando dele há meses e eu estava
resistindo um pouco à idéia de assistí-lo. Mas nesse fim de semana nāo tive
escapatória e o assistí.
O filme se chama O Livro de Eli, e tem como protagonista o
competente Denzel Washington. Até aí tudo bem, nada de mais.
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"Crer é ter esperanças" |
No início do filme parece que estamos diante daqueles
filmes de açāo sobre o fim do mundo, tema que está bem em voga no momento.
Brigas, violência, visual ‘pós
catástrofe’, um blockbuster bem ao gosto Americano. Com o passar dos minutos eu
tive vontade de abortar a missāo de assistir o tal filme, mas persisti. E
sugiro a você, que está considerando a idéia de vê-lo, de fazer o mesmo.
Vamos
à história.
Estamos numa época futura, há cerca de trinta anos após a
explosāo de uma bomba atômica que dizimou a raça humana, poluiu a água e esterilizou
a terra.
Nāo
há comida, plantas e a água vale mais que petróleo. Coisas que sāo simples pra
nós como gelo, eletricidade, comida enlatada e produtos de higiene, sāo artigos
de luxo e moeda de troca por ítens mais “importantes”.
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"A verdade nos libertará" |
Porém, em um pequeno acampamento de
sobreviventes, um líder inescrupuloso – o mundo acabou, mas eles ainda existem
– envia seus “capangas” para saquear outras cidades em busca de outro item
valioso e extremamente escasso: LIVROS!
Eis que a história me conquista!
Como todo fim de mundo que se preze,
houve uma guerra antecedendo a catástrofe. Com a guerra, líderes. Com esses
líderes, idéias absurdas, como queimar livros.
(Tenho
certeza que já ví isso antes, fora da ficção, mas, enfim…).
Poucos sabem ler nesse mundo pós
apocalítico. Os poucos que sabem aprenderam antes da explosão da bomba e não
têm como passar o conhecimento adiante, pois não há livros para serem usados.
Um triste círculo vicioso.
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"Religião é poder" |
Eis que surge Eli (Denzel
Washington). Um andarilho, que vaga sem rumo, desde a explosão, com a missão de
proteger e levar para um lugar seguro um tesouro: um livro. Mas não qualquer
livro; “O” livro, o livro mais lido do mundo, o primeiro livro impresso por
Gutemberg: A Bíblia Sagrada!
O filme não é religioso, de forma
alguma. Trata-se da missão de um homem e tudo o que ele é capaz de fazer para
cumprí-la e para manter seu livro (O livro de Eli), longe de mãos erradas.
Trata-se de defender o conhecimento. Da Gênese. Do recomeço.
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O chefe do povoado, uma espécie de
líder político, está atrás da Bíblia há anos. Ele a vê como algo necessário e
poderoso. Espera “adestrar” e subjugar seus protegidos com suas palavras e
ensinamentos, afinal ele conhece seu
poder de antes do início do fim do mundo. Como suas palavras podem arrebatar
multidões, mesmo (e principalmente) se usada da forma errada. Afinal, todo
livro é passível de interpretações, e até a Bíblia pode ser mal interpretada.
Mal lida.
Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência.
Não mesmo!
Quantos
“líderes religiosos” mal intencionados fazem isso todos os dias? Em todos os
lugares, nos grandes e nos pequenos templos, na TV e no radio?
A intenção do filme é justamente
essa; causar uma reflexão sobre valores. Os valores e a importância que damos
às coisas e às pessoas.
A super valorizaçāo do supérfluo e desvalorizaçāo das coisas simples e realmente importantes. Mostra como a história é cíclica e passível de repetiçāo, principalmente dos erros. Nós ainda insistimos nos mesmos erros. Os mesmos líderes. As mesma guerras. Os mesmos bodes-expiatórios.
E para o recomeço da ordem da nova
realidade mundial, esses sobreviventes precisam das mesmas coisas que a
história nos mostrou.
Os
verdadeiros templos.
Os
verdadeiros líderes.
O
conhecimento.
Um
“círculo vicioso” positivo. As tábuas sumérias, os papiros, o papel.
A
Biblioteca de Alexandria, do Congresso, a pública.
A
Bíblia.
O
Livro de Eli.
O
meu livro.
O
seu livro.
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“Esqueci o principio mais importante que o livro me ensinou, que
é deixar as outras pessoas alegres.”
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O LIVRO DE ELI - O FILME
Eli (Denzel
Washington) é um guerreiro solitário que sobreviveu a um não muito distante
futuro pós-apocalíptico. Sua missão é atravessar os EUA para conseguir passar
adiante conhecimentos que podem ser a chave para a redenção do planeta,
escritos em um misterioso livro.
Ficha
Técnica
Diretor: Albert Hughes, Allen Hughes
Elenco: Denzel Washington, Gary Oldman, Jennifer Beals, Mila
Kunis, Ray Stevenson, Lora Martinez, Luis Bordonada, Tom Waits, Frances de la
Tour
Duração: 118 min.
Ano: 2010
País: EUA
Gênero: Suspense
Cor: Colorido
Distribuidora: Sony Pictures
Classificação: 16 anos
Em "O Nome da Rosa" Umberto Eco conta a história de um livro "maldito" que ao mesmo tempo que ninguém ousava destruir, era motivo da obsessão de um clérigo em impedir sua leitura e consequentemente a divulgação das suas idéias tidas como blasfemas e revolucionárias.
ResponderExcluirO Nome da Rosa é um livro que trata do poder do próprio livro. A questão é que poucas pessoas entendem a quantidade de poder que um simples livro pode conter. Hitler sabia disso, não só porque apôs suas idéias loucas e megalomaníacas em "Mein Kampf", mas também porque ordenou a censura em vários tipos de publicações e o ritual de queimar livros não interessantes ao regime em praça pública, e na história, ele foi apenas um dos muitos que fizeram a mesma coisa.
Se um dia, no pós apocalipse, os livros escassearem, a imprensa será reinventada e eles voltarão a projetar poder porque livros encerram e propagam idéias, levam o pensamento de um para muitos.
Os movimentos por liberdade e direitos são parte da própria natureza da raça humana. Quando não havia livros, os dogmas e os objetivos eram cravados em pedra para que pessoas que por elas passassem assimilassem aquilo. Com os livros artesanais, esse movimento acelerou. Com a imprensa, esse movimento se multiplicou e ficou cada vez mais rápido. Com a internet (a boa internet) praticamente estão se extinguindo as ditaduras totais, estão se quebrando os tabus históricos contra negros, judeus, árabes e todas as etnias que sempre foram discriminadas, estamos vendo a inclusão no mundo de homossexuais e a justa igualdade de direitos e obrigações às mulheres. Mais que isso, da-se à eles o direito à sua opção ou condição sexual plena e à uma vida sem discriminações, inclusive nas leis civis. Tudo isso é resultado da informação e, em última análise, da existência e da evolução do livro.
Então o filme (que não assisti, mas agora vou assistir) simplesmente demonstra: ler é poder, determinar o que as pessoas lêem é mais poder ainda!
Brilhantemente comentado!!!
ResponderExcluirEngraçado, eu já tinha visto esse filme e confesso que mantinha sentimentos contraditórios em relação a ele. Conseguiu me emocionar profundamente em uns dois momentos e irritar ou entediar em todos os outros... Mas lendo seu comentário, confesso que deu vontade de rever.
ResponderExcluirÉ interessante pensar que o ditado pode até dizer que "uma imagem vale mais do que mil palavras", mas que as vezes algumas poucas palavras são bem capazes de construir mil e uma imagens também.
Lembrei agora de outro livro (e também filme) que toca no assunto: Fahrenheit 451. Já leu ou viu? Se quiser, tenho ambos e posso te emprestar.
Sim sim...Ray Bradburry, certo?
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