quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Livro de Eli




“No meu tempo as pessoas tinham mais do que precisavam, elas desperdiçavam coisas pelas quais vocês matariam hoje”
Esse post nāo é sobre nenhum livro, nem leitores ou estudiosos.
Abrirei um precedente e falarei sobre um filme. 
Um filme que ví esse final de semana e me impressionou muito. A pessoa que me indicou já vinha falando dele há meses e eu estava resistindo um pouco à idéia de assistí-lo. Mas nesse fim de semana nāo tive escapatória e o assistí.
O filme se chama O Livro de Eli, e tem como protagonista o competente Denzel Washington. Até aí tudo bem, nada de mais.
"Crer é ter esperanças"
No início do filme parece que estamos diante daqueles filmes de açāo sobre o fim do mundo, tema que está bem em voga no momento. Brigas, violência, visual  ‘pós catástrofe’, um blockbuster bem ao gosto Americano. Com o passar dos minutos eu tive vontade de abortar a missāo de assistir o tal filme, mas persisti. E sugiro a você, que está considerando a idéia de vê-lo, de fazer o mesmo.
           
Vamos à história.
Estamos numa época futura, há cerca de trinta anos após a explosāo de uma bomba atômica que dizimou a raça humana, poluiu a água e esterilizou a terra.
Nāo há comida, plantas e a água vale mais que petróleo. Coisas que sāo simples pra nós como gelo, eletricidade, comida enlatada e produtos de higiene, sāo artigos de luxo e moeda de troca por ítens mais “importantes”.   
"A verdade nos libertará"
            Porém, em um pequeno acampamento de sobreviventes, um líder inescrupuloso – o mundo acabou, mas eles ainda existem – envia seus “capangas” para saquear outras cidades em busca de outro item valioso e extremamente escasso: LIVROS!
  Eis que a história me conquista!
            Como todo fim de mundo que se preze, houve uma guerra antecedendo a catástrofe. Com a guerra, líderes. Com esses líderes, idéias absurdas, como queimar livros.
(Tenho certeza que já ví isso antes, fora da ficção, mas, enfim…).
            Poucos sabem ler nesse mundo pós apocalítico. Os poucos que sabem aprenderam antes da explosão da bomba e não têm como passar o conhecimento adiante, pois não há livros para serem usados. Um triste círculo vicioso.
"Religião é poder"
            Eis que surge Eli (Denzel Washington). Um andarilho, que vaga sem rumo, desde a explosão, com a missão de proteger e levar para um lugar seguro um tesouro: um livro. Mas não qualquer livro; “O” livro, o livro mais lido do mundo, o primeiro livro impresso por Gutemberg: A Bíblia Sagrada!
            O filme não é religioso, de forma alguma. Trata-se da missão de um homem e tudo o que ele é capaz de fazer para cumprí-la e para manter seu livro (O livro de Eli), longe de mãos erradas. Trata-se de defender o conhecimento. Da Gênese. Do recomeço.

            O chefe do povoado, uma espécie de líder político, está atrás da Bíblia há anos. Ele a vê como algo necessário e poderoso. Espera “adestrar” e subjugar seus protegidos com suas palavras e ensinamentos,  afinal ele conhece seu poder de antes do início do fim do mundo. Como suas palavras podem arrebatar multidões, mesmo (e principalmente) se usada da forma errada. Afinal, todo livro é passível de interpretações, e até a Bíblia pode ser mal interpretada. Mal lida.
Qualquer semelhança com a realidade, não é mera coincidência. Não mesmo!
Quantos “líderes religiosos” mal intencionados fazem isso todos os dias? Em todos os lugares, nos grandes e nos pequenos templos, na TV e no radio?
            A intenção do filme é justamente essa; causar uma reflexão sobre valores. Os valores e a importância que damos às coisas e às pessoas.

A super valorizaçāo do supérfluo e desvalorizaçāo das coisas simples e realmente importantes. Mostra como a história é cíclica e passível de repetiçāo, principalmente dos erros. Nós ainda insistimos nos mesmos erros. Os mesmos líderes. As mesma guerras. Os mesmos bodes-expiatórios.

            E para o recomeço da ordem da nova realidade mundial, esses sobreviventes precisam das mesmas coisas que a história nos mostrou.
Os verdadeiros templos.
Os verdadeiros líderes.
O conhecimento.
Um “círculo vicioso” positivo. As tábuas sumérias, os papiros, o papel.
A Biblioteca de Alexandria, do Congresso, a pública.
A Bíblia.
O Livro de Eli.
O meu livro.
O seu livro.
“Esqueci o principio mais importante que o livro me ensinou, que é deixar as outras pessoas alegres.” 




O LIVRO DE ELI  -  O FILME


Eli (Denzel Washington) é um guerreiro solitário que sobreviveu a um não muito distante futuro pós-apocalíptico. Sua missão é atravessar os EUA para conseguir passar adiante conhecimentos que podem ser a chave para a redenção do planeta, escritos em um misterioso livro.

Ficha Técnica

Diretor: Albert Hughes, Allen Hughes

Elenco: Denzel Washington, Gary Oldman, Jennifer Beals, Mila Kunis, Ray Stevenson, Lora Martinez, Luis Bordonada, Tom Waits, Frances de la Tour
Duração: 118 min.
Ano: 2010
País: EUA
Gênero: Suspense
Cor: Colorido
Distribuidora: Sony Pictures
Classificação: 16 anos





4 comentários:

  1. Em "O Nome da Rosa" Umberto Eco conta a história de um livro "maldito" que ao mesmo tempo que ninguém ousava destruir, era motivo da obsessão de um clérigo em impedir sua leitura e consequentemente a divulgação das suas idéias tidas como blasfemas e revolucionárias.

    O Nome da Rosa é um livro que trata do poder do próprio livro. A questão é que poucas pessoas entendem a quantidade de poder que um simples livro pode conter. Hitler sabia disso, não só porque apôs suas idéias loucas e megalomaníacas em "Mein Kampf", mas também porque ordenou a censura em vários tipos de publicações e o ritual de queimar livros não interessantes ao regime em praça pública, e na história, ele foi apenas um dos muitos que fizeram a mesma coisa.

    Se um dia, no pós apocalipse, os livros escassearem, a imprensa será reinventada e eles voltarão a projetar poder porque livros encerram e propagam idéias, levam o pensamento de um para muitos.

    Os movimentos por liberdade e direitos são parte da própria natureza da raça humana. Quando não havia livros, os dogmas e os objetivos eram cravados em pedra para que pessoas que por elas passassem assimilassem aquilo. Com os livros artesanais, esse movimento acelerou. Com a imprensa, esse movimento se multiplicou e ficou cada vez mais rápido. Com a internet (a boa internet) praticamente estão se extinguindo as ditaduras totais, estão se quebrando os tabus históricos contra negros, judeus, árabes e todas as etnias que sempre foram discriminadas, estamos vendo a inclusão no mundo de homossexuais e a justa igualdade de direitos e obrigações às mulheres. Mais que isso, da-se à eles o direito à sua opção ou condição sexual plena e à uma vida sem discriminações, inclusive nas leis civis. Tudo isso é resultado da informação e, em última análise, da existência e da evolução do livro.

    Então o filme (que não assisti, mas agora vou assistir) simplesmente demonstra: ler é poder, determinar o que as pessoas lêem é mais poder ainda!

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  2. Engraçado, eu já tinha visto esse filme e confesso que mantinha sentimentos contraditórios em relação a ele. Conseguiu me emocionar profundamente em uns dois momentos e irritar ou entediar em todos os outros... Mas lendo seu comentário, confesso que deu vontade de rever.
    É interessante pensar que o ditado pode até dizer que "uma imagem vale mais do que mil palavras", mas que as vezes algumas poucas palavras são bem capazes de construir mil e uma imagens também.
    Lembrei agora de outro livro (e também filme) que toca no assunto: Fahrenheit 451. Já leu ou viu? Se quiser, tenho ambos e posso te emprestar.

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