quarta-feira, 23 de maio de 2012



“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.”


Esse é um trecho, magistralmente escrito por Vladimir Nabokov, que para mim exprime a essência dessa obra polêmica. O modo como Nabokov escolheu as palavras e teceu as frases, nos leva à mente de uma pessoa obcecada. O frenesi da descrição à simples menção do nome da amada. Até aí tudo bem, não tivesse a amada 12 anos e o amante 47.
O livro é narrado em primeira pessoa em tom de desespero, pelo obsessivo Humbert, o protagonista professor francês de meia-idade, que após vários colapsos nervosos decide tentar a vida na América. E é lá que ele se apaixona pela pré adolescente de 12 anos, filha da dona da casa onde ele aluga um quarto. 



Tem início aí a história pintada em tons de agonia e obsessão, de um homem que não consegue lutar contra seus desejos, por mais errados que sejam perante à sociedade. E que  culminaria em seu declínio, a prisão por assassinato, revelado pelo narrador já nas primeiras páginas. Do outro lado, Lolita. Retratada como a combinação de sedução feminina e ingenuidade infantil.
Desde o começo da leitura, o livro me prendeu de tal maneira que levei três dias para terminá-lo. Fiz outras pesquisas na web, discuti a história e sentimentos por ela causados com algumas pessoas, mas levei mais de dois meses para terminar esse post, pois foi o tempo que levei para processar Lolita.
Lolita é o tipo de história que está no imaginário coletivo. A palavra lolita entrou em nosso dicionário e virou adjetivo, sinônimo de menina pré adolescente, ninfeta. É um daqueles livros imortais, clássicos e únicos que fazem parte de um seleto grupo de obras que devemos ter na estante.
Vladimir Nabokov o escreveu no início dos anos 50 e teve dificuldades em achar uma editora corajosa o suficiente para publicá-lo. Isso aconteceu somente em 1955, quando foi lançado por uma editora francesa na Europa. Era de se esperar que Lolita gerasse opiniões controversas:  alguns o celebraram como um dos melhores livros do ano; e outros o classificaram como pornografia e incentivo a pedofilia. Já dizia Oscar Wilde que  “ os livros que o mundo chama de imorais são aqueles que lhe mostram a sua própria vergonha.” 
O politicamente correto e moralista Estados Unidos, só se renderia a ele em 1958, onde rapidamente conquistou o topo das listas de mais vendidos. 
Ao longo dos anos teve duas adaptações cinematográficas, a primeira dirigida por Stanley Kubrick em 1962 com James Mason como professor Humbert,  e outra dirigida por Adrien Lyne em 1997 com Jeremy Irons.
É uma história capaz de gerar vários sentimentos no leitor, vários questionamentos, por vezes se sentir “dentro” da cabeça de um pedófilo e até simpatizar com ele em várias situações. E em outras ver a história sobre o ponto de vista de Lolita.
 O próprio autor disse que é a história da velha Europa corrompendo a nova América, ou a nova América corrompendo a velha Europa.

Um comentário:

  1. Não consegui ler inteiro... aliás, nem ver os filmes. Sou muito sensível a tudo que diga respeito a envolvimento com criança e adolescentes naturalmente e por força do meu trabalho em saúde pública.
    Não sei se é um livro que um dia me dedicarei a ler, apesar de ter um exemplar em casa há anos.
    Acho que é bem por aí, como você falou, "capaz de gerar vários sentimentos".

    ResponderExcluir