“Lolita, luz de minha vida,
labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua
descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro,
contra os dentes. Lo. Li. Ta.”
Esse é um
trecho, magistralmente escrito por Vladimir Nabokov, que para mim exprime a
essência dessa obra polêmica. O modo como Nabokov escolheu as palavras e teceu
as frases, nos leva à mente de uma pessoa obcecada. O frenesi da descrição à simples
menção do nome da amada. Até aí tudo bem, não tivesse a amada 12 anos e o
amante 47.
O livro é
narrado em primeira pessoa em tom de desespero, pelo obsessivo Humbert, o
protagonista professor francês de meia-idade, que após vários colapsos nervosos
decide tentar a vida na América. E é lá que ele se apaixona pela pré
adolescente de 12 anos, filha da dona da casa onde ele aluga um quarto.

Tem
início aí a história pintada em tons de agonia e obsessão, de um homem que não
consegue lutar contra seus desejos, por mais errados que sejam perante à
sociedade. E que culminaria em seu declínio, a prisão por assassinato, revelado pelo narrador já nas primeiras páginas. Do outro lado, Lolita. Retratada como a combinação
de sedução feminina e ingenuidade infantil.
Desde o começo da leitura, o livro me prendeu de tal maneira que levei três dias para terminá-lo. Fiz outras pesquisas na web, discuti a história e sentimentos por ela causados com algumas pessoas, mas levei mais de dois meses para terminar esse post, pois foi o tempo que levei para processar Lolita.
Lolita é o
tipo de história que está no imaginário coletivo. A palavra lolita entrou em nosso
dicionário e virou adjetivo, sinônimo de menina pré adolescente, ninfeta. É um daqueles
livros imortais, clássicos e únicos que fazem parte de um seleto grupo de obras
que devemos ter na estante.
Vladimir
Nabokov o escreveu no início dos anos 50 e teve dificuldades em achar uma
editora corajosa o suficiente para publicá-lo. Isso aconteceu somente em 1955,
quando foi lançado por uma editora francesa na Europa. Era de se esperar que
Lolita gerasse opiniões controversas: alguns o celebraram como um dos melhores livros do
ano; e outros o classificaram como pornografia e incentivo a pedofilia. Já dizia Oscar Wilde que “ os livros que o mundo chama de imorais são aqueles que lhe mostram a sua própria vergonha.”
O politicamente correto e moralista
Estados Unidos, só se renderia a ele em 1958, onde rapidamente conquistou o
topo das listas de mais vendidos.
Ao longo dos anos teve duas adaptações cinematográficas, a primeira dirigida por Stanley Kubrick em 1962 com James Mason como professor Humbert, e outra dirigida por Adrien Lyne em 1997 com Jeremy Irons.
É uma
história capaz de gerar vários sentimentos no leitor, vários questionamentos,
por vezes se sentir “dentro” da cabeça de um pedófilo e até simpatizar com
ele em várias situações. E em outras ver a história sobre o ponto de vista de
Lolita.
O próprio autor disse que é a história da
velha Europa corrompendo a nova América, ou a nova América corrompendo a velha
Europa.
Não consegui ler inteiro... aliás, nem ver os filmes. Sou muito sensível a tudo que diga respeito a envolvimento com criança e adolescentes naturalmente e por força do meu trabalho em saúde pública.
ResponderExcluirNão sei se é um livro que um dia me dedicarei a ler, apesar de ter um exemplar em casa há anos.
Acho que é bem por aí, como você falou, "capaz de gerar vários sentimentos".