quinta-feira, 31 de maio de 2012

A história da leitura




Vivemos numa época em que o conhecimento nunca foi tão acessível. A comunicação vive uma era de ouro marcada pela popularização dos meios, que começou com a invenção da Internet. Marco que rivaliza apenas com a invenção da imprensa por Gutemberg em termos de importância para a leitura. O acesso aos livros é mais fácil, há mais bibliotecas e os livros se tornaram mais populares. Vivemos numa democracia que não censura o que devemos ou não ler. Além disso, segundo o IBGE a taxa de analfabetismo caiu de 20,1% para 13,6% entre 1991 e 2000. 
 A história da leitura começa com a leitura que os primeiros homens faziam do tempo, do sol, da passagem das estações. O retrato desse cotidiano se transformou no primeiro tipo de escrita feita por esses ancestrais do homem moderno, as imagens feitas nas paredes das cavernas que habitavam. Os desenhos evoluíram para a escrita pictográfica, que deram origem a primeira escrita conhecida, a cuneiforme, desenvolvida pelos sumérios há cerca de seis mil anos. Essa escrita evoluiu e expandiu geograficamente transformando-se em outros alfabetos como o logográfico chinês e o alfabeto latino, usado no português.
 Das placas de argila aos e-books, foram necessários milênios para que a leitura fosse popularizada e deixasse de ser um hábito de poucos privilegiados com acesso à instrução.
Na Idade Média e começo da Renascença, aprender a ler era exclusivo da aristocracia e da alta burguesia. As crianças eram iniciadas nas letras por suas amas, e depois contratava-se um tutor particular, para os meninos, enquanto que as meninas eram educadas por suas mães.
O método que vigorava na época era o escolástico, que consistia em treinar o estudante a considerar um texto de acordo com critérios preestabelecidos e aprovados (MANGUEL, 1997, p.92). Seguindo uma ordem em que primeiramente era analisada a gramática, em seguida o sentido literal do texto e por último a discussão de opiniões de comentadores aprovados. Os textos nunca eram deixados abertamente à interpretação dos alunos.
 Nas populares escolas de latim, após aprender a ler e escrever, os alunos se dedicavam ao trivium: estudo da gramática, retórica e dialética. Os livros eram caros e apenas o professores os possuíam, os alunos copiavam do quadro negro. Nessa época a compreensão não era uma exigência do conhecimento e a ortografia não era uniforme. Pode-se dizer que foi nessas escolas que os alunos começaram a se tornar leitores em língua estrangeira, o latim.

Após invenção da imprensa, que disponibilizou mais os livros, surge o método humanístico, onde os leitores deviam ler por sí mesmos, ou seja, eram incentivados a fazer suas próprias interpretações. Para os alunos, essa transição os dava a autoridade de leitores individuais. Como bem captou um anônimo quando disse:

“Ao leres livros, deves ter o hábito de dar mais atenção ao sentido do que às palavras, concentrar-se antes no fruto do que na folhagem”. (MANGUEL, 1997, p.102).

Segundo Manguel, aprender a ler é visto pelas sociedades letradas como um rito de passagem (1997, p.89). “Quando aprende a ler a criança é admitida na memória comunal por meio de livros, e se familiariza com o passado comum que ela renova, a cada leitura”.


* Esse texto é uma parte da monografia realizada sobre Leitura Extensiva no Aprendizado de Língua Inglesa. Em caso de citação, favor citar a fonte.
 ROSSONI, Fábia. Leitura Extensiva no Aprendizado de Língua Inglesa

quarta-feira, 23 de maio de 2012



“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.”


Esse é um trecho, magistralmente escrito por Vladimir Nabokov, que para mim exprime a essência dessa obra polêmica. O modo como Nabokov escolheu as palavras e teceu as frases, nos leva à mente de uma pessoa obcecada. O frenesi da descrição à simples menção do nome da amada. Até aí tudo bem, não tivesse a amada 12 anos e o amante 47.
O livro é narrado em primeira pessoa em tom de desespero, pelo obsessivo Humbert, o protagonista professor francês de meia-idade, que após vários colapsos nervosos decide tentar a vida na América. E é lá que ele se apaixona pela pré adolescente de 12 anos, filha da dona da casa onde ele aluga um quarto. 



Tem início aí a história pintada em tons de agonia e obsessão, de um homem que não consegue lutar contra seus desejos, por mais errados que sejam perante à sociedade. E que  culminaria em seu declínio, a prisão por assassinato, revelado pelo narrador já nas primeiras páginas. Do outro lado, Lolita. Retratada como a combinação de sedução feminina e ingenuidade infantil.
Desde o começo da leitura, o livro me prendeu de tal maneira que levei três dias para terminá-lo. Fiz outras pesquisas na web, discuti a história e sentimentos por ela causados com algumas pessoas, mas levei mais de dois meses para terminar esse post, pois foi o tempo que levei para processar Lolita.
Lolita é o tipo de história que está no imaginário coletivo. A palavra lolita entrou em nosso dicionário e virou adjetivo, sinônimo de menina pré adolescente, ninfeta. É um daqueles livros imortais, clássicos e únicos que fazem parte de um seleto grupo de obras que devemos ter na estante.
Vladimir Nabokov o escreveu no início dos anos 50 e teve dificuldades em achar uma editora corajosa o suficiente para publicá-lo. Isso aconteceu somente em 1955, quando foi lançado por uma editora francesa na Europa. Era de se esperar que Lolita gerasse opiniões controversas:  alguns o celebraram como um dos melhores livros do ano; e outros o classificaram como pornografia e incentivo a pedofilia. Já dizia Oscar Wilde que  “ os livros que o mundo chama de imorais são aqueles que lhe mostram a sua própria vergonha.” 
O politicamente correto e moralista Estados Unidos, só se renderia a ele em 1958, onde rapidamente conquistou o topo das listas de mais vendidos. 
Ao longo dos anos teve duas adaptações cinematográficas, a primeira dirigida por Stanley Kubrick em 1962 com James Mason como professor Humbert,  e outra dirigida por Adrien Lyne em 1997 com Jeremy Irons.
É uma história capaz de gerar vários sentimentos no leitor, vários questionamentos, por vezes se sentir “dentro” da cabeça de um pedófilo e até simpatizar com ele em várias situações. E em outras ver a história sobre o ponto de vista de Lolita.
 O próprio autor disse que é a história da velha Europa corrompendo a nova América, ou a nova América corrompendo a velha Europa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Manguel, Manguel, Manguel....

Isso é tāo lindo que escolhi pra ser a citaçāo de abertura da minha monografia sobre Leitura em Língua Inglesa.


Ler em voz alta, ler em silêncio, ser capaz de carregar na mente bibliotecas intimas de palavras lembradas, são aptidões espantosas que adquirimos por meios incertos. Antes que essas aptidões possam ser adquiridas, o leitor precisa aprender a capacidade básica de reconhecer os signos comuns pelos quais a sociedade escolheu comunicar-se, em outras palavras o leitor precisa aprender a ler.” 


Alberto Manguel em Uma história da Leitura, p.85

domingo, 20 de maio de 2012

Esse sabia muito...


‘ Um dia quando não houver mais império britânico, nem república norte Americana, haverá Shakespeare; quando não se falar mais inglês, falar-se-à Shakespeare. Que valerão então todas as atuais discórdias?’
Machado de Assis 

domingo, 13 de maio de 2012

A māe que lê





Achei essa foto lindíssima! 
Mostra o que tenho dito há tempos; como a leitura em voz alta cria vínculos afetivos entre leitor e "ouvidor".
Uma mulher, lendo para dois gorilas filhotes! Como uma māe que lê para seus filhos. 
Foto bem emblemática para esse Dia das Māes, que mostra que māe nāo é só aquela que dá a vida, mas também é aquela que dá amor, conhecimento. Seja para seus filhos biológicos ou nāo, humanos ou de quatro patas. É aquela que nutre, com diferentes tipos de alimento; o do corpo, o da alma e o da mente. 
Por isso, a māe que lê, faz um trabalho lindo, criando um vínculo com seu filho que dará frutos lá no futuro.
A criança que ouve histórias contadas por seus pais, avós, e etc, será um aluno melhor, um leitor melhor, um cidadāo melhor.
O exemplo da māe que lê é essencial na formaçāo de leitores

Notem como um deles olha para o livrinho, como se estivesse "lendo". Faz igualzinho a uma criança que ainda nāo sabe ler.
Esses gorilas, notoriamente selvagens, alí, sentados, calmos, sendo "acarinhados" pelas palavras da leitora.
O selvagem e o conhecimento. 
Uma metáfora de como o saber pode domar as mais selvagens das criaturas.
Talvez seja isso que esteja faltando em nossa sociedade: alguém que leia para os jovens menos afortunados, àqueles que vivem a realidade da violência. Poder dar à esses meninos e meninas ferramentas para lidar com essa realidade, mesmo que seja fugindo dela, através da imaginaçāo, como uma fuga saudável.

Essa moça da foto é Diane Fossey, que abandonou a civilização para viver nas florestas africanas, estudando os gorilas e protegendo-os dos caçadores. 
Durante anos enfrentou os perigos da floresta e os animais selvagens que lá viviam. Foi um deles, o mais primitivo, que a matou à facadas em sua cabana no meio da floresta: o homem.

Há um filme sobre ela, se chama Na Montanha dos Gorilas. Abaixo, o trailler: