quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Quarta feira de cinzas


Soneto de quarta-feira de cinzas



Por seres quem me foste, grave e pura 
Em tão doce surpresa conquistada
Por seres uma branca criatura
De uma brancura de manhã raiada

Por seres de uma rara formosura
Malgrado a vida dura e atormentada
Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada

Porque te vi nascer de mim sozinha
Como a noturna flor desabrochada
A uma fala de amor, talvez perjura

Por não te possuir, tendo-te minha
Por só quereres tudo, e eu dar-te nada
Hei de lembrar-te sempre com ternura.


quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Aniversário de Manuel de Barros

Nesse dia em 1916, nasceu Manuel de Barros.
Poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros [1]. Sua obra mais conhecida é o "Livro sobre Nada" de 1996.
fonte: WIkipedia






O MENINO QUE CARREGAVA ÁGUA NA PENEIRA


Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira


                                                     


A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.

Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

     A mãe reparou que o menino
     gostava mais do vazio
     do que do cheio.
     Falava que os vazios são maiores
     e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira




    No escrever o menino viu
     que era capaz de ser
     noviça, monge ou mendigo
     ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.




Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.

O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.

A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.




Você vai encher os
vazios com as suas peraltagens

e algumas pessoas
vão te amar por seus despropósitos.
 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ken Follet

Além de Literatura, uma outra paixão minha é a História. De qualquer tipo: brasileira, antiga, períodos de paz, de guerra...enfim, qualquer época. Acho algo imprescindível para entendermos o mundo, quem somos, de onde viemos e para onde vamos. 
E quando a Literatura se une à História, o que acontece? Livros extraordinários, requintados, que nos proporcionam uma incrível viagem no tempo! Principalmente quando a História é usada como pano de fundo, é quase um personagem do livro. É o que acontece em O Nome da Rosa e Cemitério de Praga - de Humberto Eco, Crime e Castigo - de Dostoiévski e tantos outros.
                  Ken Follet depois do excelente Os Pilares da Terra, que conta a história da construção de uma catedral na Inglaterra da Idade Média, nos trás outro grande trabalho, uma trilogia, que se passa ao logo de algumas décadas e conta a saga de cinco famílias, de cinco países: uma inglesa, uma galesa, uma russa, uma alemã e outra americana. Ao longo da trama, que começa no início do século XX, a história e o destino dessas famílias se entrelaçam tendo como cenário vários acontecimentos históricos como o assassinato de Francisco Ferdinando, e consequentemente a I Grande Guerra, a Revolução Russa, a luta dos trabalhadores contra a exploração da aristocracia e o movimento sufragista na Inglaterra.
A trama entrelaça as vidas de personagens fictícios e reais, como o rei Jorge V, o Kaiser Guilherme, o presidente Woodrow Wilson, Winston Churchill e os revolucionários Lênin e Trótski.
O segundo volume da trilogia, Inverno do Mundo, retoma a história das famílias, agora já na segunda geração, no período entre guerras, a ascenção dos regimes totalitários, e seus personagens como Lênin e Stalin, Mussolini e Hitler.
O terceiro e ultimo livro da saga, sera lançado em 2014 e terá como pano de fundo a Guerra Fria.
No link abaixo o próprio autor, Ken Follet, fala sobre Queda de Gigantes.
Entrevista Ken Follet


segunda-feira, 29 de outubro de 2012



Hoje, dia do livro, vamos celebrar a leitura começando com as postagens de hoje, com esse belíssimo poema de Luis Fernando Veríssimo. Um deleite...

Ler...
Ler é o melhor remédio.
Leia jornal...

Leia outdoor...
Leia letreiros da estação do trem...
Leia os preços do supermercado...
Leia alguém!
Ler é a maior comédia!
Leia etiqueta jeans...
Leia histórias em quadrinhos...
Leia a continha do bar...
Leia a bula do remédio...
Leia a página do ano passado perdida no canto da pia enrolando chuchus...
Leia a vida!
Leia os olhos, leia as mãos.
Os lábios e os desejos das pessoas...
Leia a interação que ocorre ou não entre física, geografia, informática,
trabalho, miséria e chateação...
Leia as impossibilidades...
Leia ainda mais as esperanças...
Leia o que lhe der na telha...
...mas leia, e as idéias virão!

domingo, 23 de setembro de 2012

Frank O'Hara

O papel do leitor é também o de pesquisador. 
Ficar atento às coisas novas, buscar referências, seja por meio dos amigos - leitores, sites, blogs.
Ontem tive a felicidade de me deparar com o trabalho de um escritor americano que eu não conhecia. Frank O'Hara.
Frank O'Hara nasceu em Baltimore em 1929, mas é conhecido por seu trabalho que tem como pano de fundo a cidade de Nova York. Teve influência de pintores, como Jackson Pollock, em sua poesia dadaísta publicada no início da década de 50. E junto com outros poetas como James Schuyler, Barbara Guest e Kenneth Koch, fez parte do grupo conhecido como Escola de Nova Iorque.
Abaixo um de seus poemas mais marcantes "Uma Coca-Cola com você". 


    Uma Coca-cola com Você

    é ainda melhor que uma viagem a San Sebastian, Irun,Hendaye, Biarritz, Bayonne 
    
ou que ficar enjoado na Travessera de Gracia em Barcelona
    
em parte porque nessa camisa laranja 
    você parece um São Sebastião melhor e mais feliz
    
em parte porque eu gosto tanto de você, 
    em parte porque você gosta tanto de iogurte 
    
em parte por causa das tulipas laranja fluorescente 
    contra a casca branca das árvores 

    em parte pelo segredo que nos vem ao sorriso
    perto de gente e de estatuária 
é difícil quando estou com você acreditar que existe alguma coisa tão parada 
tão solene tão desagradável e definitiva como estatuária 
    quando bem na frente delas 
na luz quente de Nova York 
    às quatro da tarde nós estamos indo e vindo 
de um lado para o outro 
    como a árvore respirando pelos olhos de seus nós
 
    e a exposição de retratos parece não ter nenhum rosto, só tinta 
de repente você se surpreende que alguém tenha se dado ao trabalho de pintá-los 
    
olho 
pra você e prefiro de longe olhar para você do que para todos os retratos do mundo 
    
exceto talvez às vezes o Cavaleiro Polonês 
    que de qualquer maneira está no Frick 
    
aonde graças a Deus você nunca foi de modo que eu posso ir junto com você a primeira vez 

    e isso de você se mover tão bonito 
    mais ou menos dá conta do Futurismo 

    assim como em casa nunca penso no Nu Descendo a Escada ou 
num ensaio em algum desenho de Leonardo ou Michelangelo que costumava me deslumbrar 
    
e o que adianta aos Impressionistas tanta pesquisa 
quando eles nunca encontraram a pessoa certa para ficar perto de uma árvore 
    quando o sol baixava 

    ou por sinal Marino Marini que não escolheu o cavaleiro tão bem 
quanto o cavalo  
    acho que eles todos deixaram de ter uma experiência maravilhosa 

    que eu não vou desperdiçar por isso estou te contando